sábado, 9 de julho de 2011

ESTRESSE EMOCIONAL EM MULHERES COM PROBLEMAS DE INFERTILIDADE.

        O estudo abaixo refere-se ao resultado de uma pesquisa com 3.583 muheres inférteis, submetidas a um ciclo de tratamento, baseados em dados pulbicados num período de  vinte e cinco anos - 1985 a 2010, publicado no site Medical Service, com data de 30 março de 2011 e comentários da Dra. Maria Cristina Bechelany Dutra, Psiquiatra, Mestre em Psicologia Social, preceptora da residência de psiquiatria do Hospital de Ensino Instituto Raul Soares/FHEMIG, Belo Horizonte.
        os grifos no texto são de nossa autoria, nos aspectos que consideramos importantes como resultado conclusivo do trabalho realizado.
vide texto:


30-03-2011 - Estresse emocional em mulheres inférteis e falha nas tecnologias de reprodução assistida: meta-análise de estudos psicossociais prospectivos.
Emotional distress in infertile women and failure of assisted reproductive technologies: meta-analysis of prospective psychosocial studies. Boivin J, Griffiths E, Venetis CA. BMJ. 2011 Feb 23;342:d223.
Objetivo: Examinar se o estresse emocional pré-tratamento em mulheres submetidas a procedimentos de reprodução assistida está associado ao alcance de gestação após um ciclo.
 Desenho: Meta-análise de estudos psicossociais prospectivos.
Fontes de dados: PubMed, Medline, Embase, PsycINFO, PsychNET, ISI Web of Knowledge e ISI Web of Science foram pesquisadas por artigos publicados de 1985 a março de 2010 (inclusive). Também foram pesquisadas as listas de referência e 29 autores foram contatados. Os estudos elegíveis foram estudos prospectivos que relataram a avaliação da associação entre estresse emocional pré-tratamento (ansiedade ou depressão) e gravidez em mulheres submetidas a um único ciclo de tecnologia de reprodução assistida. Métodos de revisão: dois autores avaliaram de forma independente a elegibilidade e a qualidade dos estudos (usando critérios adaptados da escala de qualidade Newcastle-Ottawa) e extraíram os dados. Os autores contribuíram com dados adicionais não incluídos na publicação original.
Resultados: Quatorze estudos com 3.583 mulheres inférteis submetidas a um ciclo de tratamento foram incluídos na meta-análise. A magnitude do efeito usada foi a diferença média padronizada (ajustada para o tamanho da amostra) na depressão ou ansiedade pré-tratamento (prioridade na ansiedade, quando as duas fossem mensuradas) entre mulheres que alcançaram gestação (definida como teste de gravidez positivo, identificação de batimento cardíaco fetal ou nascido vivo) e aquelas que não engravidaram. O estresse emocional pré-tratamento não se associou aos desfechos após um ciclo de tecnologia de reprodução assistida (diferença média padronizada -0,04, IC 95% -0,11 a 0,03 [modelo de efeitos fixos]; heterogeneidade 14%, P = 0,30). Análises de subgrupos de acordo com a experiência prévia de tecnologia de reprodução assistida, composição do grupo sem gestação e tempo de avaliação emocional não foram significativas. A magnitude do efeito não variou de acordo com a qualidade do estudo, mas uma análise de subgrupo significativa no momento do teste de gravidez indicou a presença de viés de publicação moderado.
Conclusões: Os achados dessa meta-análise devem ser transmitidos às mulheres e médicos, informando que o estresse emocional causado pelos problemas de fertilidade ou outros eventos da vida, concomitantes ao tratamento, não irá comprometer a chance de gravidez.
(grifos nossos).
Comentários
Maria Cristina Bechelany Dutra
Psiquiatra, mestre em psicologia social, preceptora da residência de psiquiatria do Hospital de Ensino Instituto Raul Soares/FHEMIG, Belo Horizonte.

Este artigo trata de tema de grande interesse: as relações entre infertilidade, reprodução assistida e estresse emocional. Trata-se de tema cercado de muitas crenças e tabus e uma das crenças mais comuns é a idéia de que o estresse emocional e a ansiedade podem ser extremamente prejudiciais para os casais que desejam engravidar, sobretudo quando se trata de reprodução assistida. Histórias de casais que engravidam justamente quando desistem de ter filhos, depois de várias tentativas de fertilização in vitro frustradas, são “frequentes”. Mas o estudo científico, como sabemos, não pode se basear no senso comum e nem aceitá-lo sem questionamento. E esse artigo é um claro exemplo disto. Como demonstrado, contrariamente ao que se pensava, os fatores ansiedade e estresse emocional, relacionados ou não à infertilidade, parecem não interferir nas chances de gravidez durante a reprodução assistida.
Um dos estudos que corrobora esta conclusão é o estudo de Lovely et als(1). Estes autores demonstraram que marcadores bioquímicos relacionados ao estresse falharam em demonstrar um efeito deletério do estresse no resultado de gravidez em mulheres que se submeteram à reprodução assistida. Além disso, demonstraram também que medidas subjetivas de estresse não diferiram entre as mulheres que conseguiram engravidar e aquelas que não conseguiram.
Clinicamente, um casal só é considerado infértil após no mínimo um ano de tentativas de gravidez, sem sucesso, evidentemente sem utilizar nenhum método contraceptivo. Segundo estudo realizado na Dinamarca(2), ainda é escasso o conhecimento sobre a prevalência da infertilidade e são poucos os estudos longitudinais que versam sobre as consequências psicossociais da infertilidade e seu tratamento. Entretanto, sabe-se que, se as taxas de estresse não alteram o sucesso do tratamento contra a infertilidade como demonstrado anteriormente, certamente o estresse pode se manifestar durante o período de constatação da infertilidade e o seu tratamento. Segundo Wichman et als(3), sintomas depressivos, estados de ansiedade, angústia relacionada à infertilidade e estresse geral são bastante comuns nas mulheres que estão se preparando para ser submetidas ao tratamento da infertilidade, sendo portanto fundamental o desenvolvimento de intervenções psicossociais que possam ser indicadas nestas situações.
Referência
1. Lovely LP, Meyer WR, Ekstrom RD, Golden RN. Effect of stress on pregnancy outcome among women undergoing assisted reproduction procedures. South Med J. 2003 Jun;96(6):548-51.
2. Schmidt L. Infertility and assisted reproduction in Denmark. Epidemiology and psychosocial consequences. Dan Med Bull. 2006 Nov;53(4):390-417.
3. Wichman CL, Ehlers SL, Wichman SE, Weaver AL, Coddington C. Comparison of multiple psychological distress measures between men and women preparing for in vitro fertilization. Fertil Steril. 2011 Feb;95(2):717-21.


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