terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

SINDROME DE JÖGREN - ATUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

A Síndrome de Jögren é uma doença complexa que envolve várias áreas, estando relacionada a problemas autoimunes, trazendo entre suas alterações, problemas nas glândulas salivares, secura e ardor nos olhos. Vale conhecer. O Cirugião dentista, assim como o médico, tem importante papel em sua detecção e tratamento.
 Veja a matéria publicada na página: Clínica Humanus, http://www.saliva.com.br/saliva/capa/sjogren, que abaixo transcrevo: 
                                                                                 

O QUE É A SÍNDROME DE SJÖGREN                                                 

 Apresentação:

A Síndrome de Sjögren é uma doença auto-imune descrita pela primeira vez em 1933 pelo oftalmologista sueco Henrik Sjögren. Nesta síndrome o sistema imunológico do corpo tem como alvo principal às glândulas produtoras de muco (fluidos) destacando-se as glândulas salivares e lacrimais. Este ataque promove uma reação inflamatória que causa destruição dos tecidos ou prejudica seu funcionamento adequado. No Brasil não se dispõe de uma base de dados confiável sobre o exato número de portadores da Síndrome de Sjögren, porém esta Síndrome é uma das mais prevalentes desordens auto-imune que acomete de 2 a 4 milhões de americanos.

A idade média inicial é após os 40 anos, sendo que nove entre dez pacientes são mulheres.
Entretanto, a Síndrome de Sjögren pode ocorrer em todas as faixas etárias e em ambos os sexos.

Acreditamos que a falta de um diagnóstico precoce fez com que esta faixa etária prevalecesse nos levantamentos epidemiológicos realizados, pois temos observado em nossa prática clínica uma grande ocorrência numa faixa etária menor.
Durante avaliação criteriosa, realizando-se avaliação dos padrões salivares e levantamento do histórico médico- odontológico confirma-se a existência da Síndrome de Sjögren. Ou seja, a atuação do cirurgião dentista no diagnóstico precoce da doença é de extrema importância, pois assim estaremos promovendo juntamente com os profissionais da classe médica uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas.

                                                                               

Causas

A causa ou causas específicas da Síndrome de Sjögren não são conhecidas, mas múltiplos fatores provavelmente estão envolvidos, dentre os quais os genéticos, viróticos, hormonais ou suas interações.

Algumas vezes há casos desta síndrome na família, porém é mais comum encontramos históricos de outras doenças auto-imunes , como: lúpus eritematoso sistêmico, tireoidite de Hashimoto, diabetes juvenil, artrite reumatóide, etc.

Lembramos que são muitas as causas da secura bucal, porém nesta síndrome iremos observar que a secura bucal estará acompanhada de secura ocular causando a xerostomia e a xeroftalmia – este quadro caracteriza a Síndrome de Sjögen primária. Quando vier acompanhada de distúrbios do tecido conjuntivo será denominada de Síndrome de Sjögen secundária. Ou seja, quando a Síndrome de Sjögren ocorre de forma isolada, sem a presença de outra doença de tecido conjuntivo, é chamada de Sjögren Primária. Quando os sintomas de Sjögren são acompanhados de uma doença do tecido conjuntivo como artrite reumatóide, lupus ou esclerodermia, caracteriza Sjögren Secundária.

O termo secundária não implica que a primária é mais importante que a secundária. Aproximadamente metade das pessoas acometida pela Síndrome de Sjögren apresenta a forma primária e a outra metade a forma secundária.

Indivíduos com Síndrome de Sjögren Primária têm problemas mais sérios de secura nos olhos e boca. E o aumento das glândulas ao redor da face, mandíbulas e pescoço pode ser mais freqüente. Entretanto, embora não seja comum, outras glândulas do corpo podem ser comprometidas, como por exemplo: as glândulas do trato respiratório e da vagina causando infecções pulmonares e dores durante as relações sexuais.

Sinais e Sintomas

Os sintomas podem estabilizar, piorar ou entrar em remissão. Enquanto algumas pessoas apresentam suaves sintomas, outras sofrem com sintomas debilitantes que prejudicam notavelmente sua qualidade de vida. Porém, a falta de saliva estará sempre presente e o portador deverá receber atenção especial de profissionais que conheçam esta Síndrome para que se minimizar os danos bucais decorrentes da Síndrome de Sjögren.
Repercussões Bucais
Função/local    Sinais / Sintomas
Saliva   Grossa, pegajosa, espumosa. Presença de infecções por fungos
Lábios Secos / fissuras.Irritações nos cantos dos lábios. (queilite angular)
Língua Queimação, ápera, seca, dolorida, vermelhidão, fissuras
Mucosa das Bochechas           Secas, com placas brancas
Glândulas Salivares      Glândulas próximas ao ouvido e/ou mandíbula inchadas e doloridas
Mastigação      Dificuldade para mastigar alimentos secos; dificuldade em se adaptar a próteses removíveis (dentaduras)
Gustação/Olfação        Alteradas, sensação de mau hálito
Mucosa bucal Ulcerações (aftas); dor, sensibilidade aos alimentos ácidos, salgados e condimentados
Dentes             Aumento da incidência de lesões de cárie, restaurações manchadas, perda dentária
Gengivas          Inflamadas e retraídas
Fala     Dificuldade para articular as palavras
Auto limpeza bucal       Muito prejudicada, favorecendo maior retenção dos alimentos, bactérias e células descamadas
Sede    Toma água com maior freqüência, principalmente quando está comendo; necessidade de ter água ao lado da cama durante a noite

Comumente, os sintomas orais estão associados com outras manifestações sistêmicas de secura:
Repercussões Sistêmicas
Função/local    Sinais / Sintomas
Nariz:   Secura, formação freqüente de crostas, sangramento nasal, formação de muco espesso e decréscimo da olfação
Olhos : Secura, queimação, formigamento, coceira, sensação de areia nos olhos; as pálpebras se grudam; fotossensibilidade, visão embaçada
Pele:    Secura; vermelhidão tipo "asa de borboleta" na face; sensibilidade maior ao frio, mudança na cor, especialmente nos dedos (Fenômeno de Raynaud)
Trato gastrintestinal:     Constipação; refluxo; esofagite e problemas na deglutição
Garganta :        irritação freqüente, sensação de algo parado
Sistema Respiratório :   Tosse seca; dificuldade respiratória
Articulações :    Artrite reumatóide; inchaço, dor, enrijecimento, vermelhidão
Vagina :            secura; coceira, sensação de queimação, infecções recorrentes por fungos, dificuldade durante o ato sexual
Sintomas gerais :          Fatiga, fraqueza, perda de peso, depressão
Distúrbio do sono:        Devido ao ressecamento da orofaringe, o indivíduo acorda várias vezes à noite para tomar água e urinar

Diagnóstico

O diagnóstico e tratamento precoce são importantes para prevenir complicações e a atuação do cirurgião dentista na realização deste diagnóstico é de extrema importância, pois a secura da boca poderá ser um dos primeiros sintomas desta doença. Nossa equipe segue os critérios de diagnóstico do preconizado durante o 1º. Simpósio Multidisciplinar sobre a Síndrome de Sjögren da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, onde deverão estar presentes 2 sintomas cardinais da Síndrome: olhos secos e boca seca e mais 4 exames positivos:

    Presença persistente e diária de xeroftalmia por mais de 3 meses. Sensação de areia nos olhos ou uso de colírios que substituam a lágrima mais de 3 vezes ao dia.
    Sensação de xerostomia por mais de 3 meses. Presença de inchaço persistente ou recorrente das glândulas salivares por mais de 3 meses. Ingestão freqüente de líquidos para auxiliar a deglutição de alimentos secos.
    Positividade de pelo menos 1 dos testes: de Schirmer (< 5mm em 5 minutos) e do Rosa de Bengala (>4).
        
    Características histológicas positivas na biópsia de glândulas salivares menores.
    Envolvimento da glândula salivar em pelo menos 1 dos seguintes exames:
        Cintilografia salivar;
        Sialografia de parótida;
        Sialometria não estimulad.
    Presença de pelo menos um dos auto-anticorpos:
        anti SSA ou SSB
        Fator anti-núcleo
        Fator reumatóide

Será descartada a possibilidade desta Síndrome, caso o paciente se apresente com:

    Histórico de radioterapia na cabeça e pescoço
    Hepatite C
    Linfoma e sarcoidose
    Doença de enxerto X hospedeiro
    Uso de medicamentos anticolinérgicos
    Síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA)

Tratamento:

Ressaltamos que o diagnóstico e a intervenção precoces podem alterar o curso da doença e que o tipo de tratamento varia conforme o grau de comprometimento das glândulas salivares. O paciente deverá sempre ser assistido tanto pelo cirurgião dentista, como pelo reumatologista e oftalmologista para melhorar a qualidade de vida do paciente.
O cirurgião-dentista atuará para estimular a função das glândulas salivares e para prevenir danos maiores aos dentes, gengivas, mucosas bucais.

    Tratamento para glândulas salivares que respondem a estimulação: diferentes métodos têm sido utilizados com o objetivo de estimular a oxigenação das glândulas salivares e melhorar a produção salivar nos pacientes, entre esses podemos mencionar:
        Estimulação mastigatória: a mastigação constitui um estímulo normal e fisiológico para aumentar a salivação e as glândulas salivares são altamente reativas à ela. Recomenda-se ao paciente consumir alimentos consistentes numa freqüência maior
        Estimulação gustatória: este estímulo será indicado para pacientes que não possuem irritações nos tecidos bucais, pois este poderá irritar mucosas desidratadas
        Estimulação elétrica: a emissão de impulsos elétricos aumenta o reflexo fisiológico salivar e deverá ser aplicado em sessões consecutivas
        Aplicação de laser terapêutico
        Estimulação medicamentosa: prescrição de medicamentos homeopáticos ou alopáticos que atuam no sistema nervoso parassimpático estimulando o fluxo salivar
        Mudanças de hábitos sociais e alimentares
    Tratamento para glândulas que não respondem mais aos estímulos: o objetivo será amenizar o desconforto decorrente da desidratação bucal, evitar a descalcificação dentária e processos inflamatórios.

Condutas específicas para cada caso serão adotadas.

As orientações abaixo poderão ser seguidas por todos portadores de boca seca:

    Beber água com freqüência no decorrer do dia. (no mínimo 2 litros)
    Manter uma excelente higiene bucal
    Restringir o consumo de açúcar para evitar a atuação dos ácidos sobre os
    dentes
    Comidas muito condimentadas, salgadas e/ou secas deverão ser evitadas
    Mascar chicletes sem açúcar por 10 minutos 3 vezes ao dia
    Evitar o fumo, bebidas alcoólicas, refrigerantes cola, chá mate e café, pois eles aumentam a secura da boca
    Usar umidificador para manter um nível de umidade do ar
    Lavar as narinas com água mineral 4 vezes ao dia
    Usar sempre um protetor labial ou batom com protetor solar
    Reduzir o nível de estresse
    Visitar o seu dentista, reumatologista e oftamologista, a cada 3 meses