COMO
VOCÊ VOTA?
O
ELEITOR NUMA VISÃO PSICOSSOCIAL E DA NEUROCIÊNCIA
Eleição
é o procedimento democrático de escolha de candidatos aos cargos eletivos
importantes do país e que definem os rumos políticos em prefeituras, estados e
no governo federal.
Através
da eleição o povo escolhe democraticamente seus representantes. Uma questão
entretanto fica no ar: o povo sabe votar? Como funciona seu comportamento
eleitoral na hora da escolha de seus candidatos?
Estudos
recentes de psicologia social, como o divulgado recentemente pelo jornal O
Estado de P, São Paulo, realizado por José Roberto de Toledo afirma que o
desejo de mudança ou continuidade é principal motor de qualquer eleição.
Segundo o autor, quando um eleitor deseja mudar a situação vota na oposição, se
acredita que tudo vai bem e deseja continuar, vota na situação reelegendo quem está.
De
acordo com o artigo publicado na revista Psique, Ano VII, n.104, escrito pela
Psicóloga Clinica Magdalena Barbera Sottano¹, a psicologia e a neurociências tentam
compreender o comportamento eleitoral embasados na origem e na manutenção da
história política brasileira, onde o mundo social é criado por “repetições de
ações” aprendidas no cotidiano, conforme é o entender da Socióloga
Fenomenológica (Schultz, 1974).
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1 - Magdalena Barbera Sotano, graduada em Psicologia Clinica
pela Universidade São Marcos e Comunicação Social pela Fundação Armando Alvares
Penteado (FAAP.Aprimoramento e extensão em Psicanálise da Criança pelo
Instituto Sedes Sapientiae e Distúrbios do Desenvolvimento Infantil e da Adolescência
COGEAE/PUC/SP. Psicologia e Psiquiatria Forense no Instituto de Psiquiatria da
USP – Nufor – Núcleo Forense. Experiência em atendimento clínico
multidisciplinar no Setor de Saúde Mental do Centro de Especialidades Médicas
da Prefeitura de Ibiúna.
A
perspectiva sociológica se fundamenta no contexto social em que o indivíduo
vive, segundo variáveis econômicas, demográficas e ocupacionais, e como esse
contexto influência no comportamento do eleitor.
De
acordo com a perspectiva psicológica, mais subjetiva, é a estrutura cognitiva
do indivíduo que vai determinar o seu comportamento, ou seja: por que ele pensa
como pensa; por que age como age; o que o motivou a escolher este ou aquele
candidato. Seguindo essa linha, a história do indivíduo, suas experiências de
vida (família, escola e sociedade), são fatores decisivos na hora do voto.
Finalmente,
a abordagem da escolha racional é aquela que considera a decisão do voto como
“produto” de uma ação individual e racional. Como se o eleitor fosse um “consumidor”
no mercado, escolhendo produtos que minimizem os seus custos e maximizem os
seus ganhos.
Conforme
a matéria, é difícil determinar como os indivíduos votam, e, no caso dos
brasileiros é preciso levar em conta que a maioria da população não acredita em
política, mantém-se distante dos mecanismos de participação e vota na “pessoa
do candidato”.
O
trabalho sugere que as escolhas eleitorais na maior parte da população
brasileira, especialmente nas camadas mais populares, são motivadas por uma
cultura cética e personalista, que tem sua origem e manutenção na história
política brasileira.
Citando
Bertold Brecht, sobre consciência política: “o
analfabetismo político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito dizendo que
“odeia política”. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política, nasce... o
político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e
multinacionais”.
Conforme
estudos há uma incapacidade de se separar “razão” da “emoção” durante o
processo de decisão, e se baseiam da seguinte forma:
ü O eleitor é facilmente manipulado por
campanhas políticas;
ü As campanhas podem determinar o resultado das
eleições;
ü O político é encarado como um “produto” que
pode ter sua embalagem e conteúdo mudados a qualquer momento.
Existem
alguns autores que afirmam que os brasileiros não compreendem muito bem a
política e, portanto, não estão aptos a tomar uma decisão racional coerente com
suas vontades, devido a baixa escolaridade.
Existe
uma polêmica entre os estudos, alguns pressupondo que o marketing político é
uma ferramenta utilizada para influenciar o eleitor, sendo sua decisão uma
escolha puramente “racional”. Outros afirmando que a lógica do comportamento do
eleitor brasileiro pode ser interpretada como emotiva, não se baseando na ideologia,
mas sim na emoção, tal como afirmam os estudos de Castro (1994 – 1998;
Carreirão (2000) e Radmann (2001).
Para Marland
(2003) os estudos nacionais estão muito atrasados em relação aos
internacionais. De todos os estudos nacionais realizados existe uma conclusão
unânime de um eleitor personalista, que decide seus votos, principalmente,
pelos atributos individuais, de competência e honestidade dos candidatos. [O
critério honestidade, atualmente, parece não exercer tanta influência no
eleitor, já que vemos vários candidatos condenados ou afastados, por
improbidade e outros crimes, retornarem ao cargo pelo voto.Talvez, o eleitor,
nesse caso, seja influenciado pelo marketing bem elaborado, ou, prefira não
acreditar na baixa credibilidade de seu candidato. Observação do minha.]
Para o
estudioso do comportamento político Leôncio Camino, a escolha eleitoral é um
processo que se estabelece desde a inserção do indivíduo na sociedade, até o
momento em que coloca seu voto na urna.
Considera inconcebível democracia sem eleições e afirma que sua
característica mais representativa é ser um ato individual.Define dois aspectos
que constituem o comportamento eleitoral:
a) o ato
individual de escolher um candidato;
b) a
existência concreta de alternativas
políticas reais.
Conforme,
consta da matéria, Camino ainda concebeu um modelo psicossociológico para o
estudo da decisão eleitoral, que contém:
a) o
fenômeno que se deseja explicar;
b) os
fenômenos que precisam da explicação;
c) a
natureza das relações entre os mesmos.
Nesse modelo procura localizar as etapas importantes do processo,
relacionando-as com três aspectos do comportamento de votar. As três etapas
são: disposição a votar, o processo de escolha, o resultado da escolha eleitoral.
Ainda
de acordo com os estudos de Camino, a Psicologia Social constata que são as
formas de participações sociais que influenciam o posicionamento político e
ideológico dos eleitores, em conformidade com os grupos sociais que
representam, ou seja, as organizações sociais, políticas, religiosas,
trabalhistas, etc. Essas diferentes formas de participação modelam visões
próprias da estrutura social que vão influenciar na escolha eleitoral.
Para
o psicólogo social Serger Moscovici, que tentou buscar a exaltação social sobre
o individual, as representações sociais seriam sistemas de valores, ideias e
práticas com dupla função: o estabelecimento de uma ordem que capacita os
indivíduos a se orientarem e dominarem o seu mundo social; a facilitação da
comunicação entre os membros da mesma comunidade, providenciando os mesmos
códigos para nomearem e classificarem os vários aspectos de seu mundo e suas
histórias individuais e grupais. Todos buscando uma linguagem comum.
é
a representação social e a rede de relações entre seus componentes que faz com
que se definam os mesmos objetivos, elaborando, entre eles, uma concepção ou
ideologia, que leva em conta o funcionamento cognitivo do grupo. É uma forma de
interpretar a realidade, fixando suas posições diante de situações do dia a
dia.
Ainda
segundo Moscovici o cérebro atua com a formação de uma “schemata”, ou seja,
esquema de conexões cognoscíveis, organizações mentais que e situam entre a
percepção e a memória, que buscam ordenar o fluxo das informações. O objetivo
da schemata é remeter para a memória uma situação anterior, e sugerir um
comportamento conveniente para o presente. Atua como um rascunho, o presente
copiando do passado, buscando evitar surpresas. Segundo o autor, procuramos
objetivos que confirmem nosso ponto de vista, negligenciando os que possam
enfraquecê-los.
A
mídia apresenta papel importante no processo político, uma vez que a
comunicação de massa é indiscutível para cientistas sociais e políticos. O
acesso ao discurso político depende diretamente da mídia.
A
autora cita que segundo Daniel Boorstin, a necessidade de obter atenção dos
meios de comunicação faz com que os acontecimentos políticos assumam a forma de
pseudo-eventos, ou seja, eventos planejados para tornarem-se notícia. Dessa
forma, existe uma adequação política aos critérios midiáticos. (grifo
nosso)
Outro
fator é a atuação da mídia que divulga nossa realidade social, mas, pinça os
assuntos de interesse midiático, de forma que o cidadão comum tem acesso
somente a esses eventos, que passaram por um “filtro” e foram considerados
dignos de veiculação. Assim, o impacto que os meios de comunicação têm sobre a
política não pode ser ignorado.
Também,
conforme o professor Antonio Carlos Simonian – Psicologia da Uni Santos – não
se pode desprezar a mensagem subliminar no marketing político. Considera-se
subliminar todo estímulo que, embora não seja percebido conscientemente pelo
indivíduo, é captado pelos órgãos sensoriais e encaminhado ao cérebro, onde é,
depois de algum tempo, transformado em comportamento.O marketing político se
apropria desta influência para afetar o eleitor.
Segundo
o professor de Ciência Política Luiz Felipe Miguel, ao estarmos expostos a todo
tipo de informação (esporte, política, publicidade, economia, fofocas, etc.) ao
final do dia ocorre um misto de escolha e acaso que filtra nossas informações.
Na política, o impacto da mídia é mais intenso, por ser ela o principal
elemento de contato entre a política e o cidadão comum. Como consequência o
“discurso político” se transformou, adaptando-se às formas preferidas dos meios
de comunicação de massas, e a mídia é o principal responsável pela produção da
“agenda pública”, discutindo as principais questões da Campanha.
De
acordo com a opinião de neurocientistas o comportamento do eleitor é fruto de
sentimentos que se formam e se consolidam durante a campanha eleitoral. Estudos
destinados a conhecer como funciona o cérebro, as motivações emocionais e como
funciona o comportamento do eleitor na tomada de decisão, ganharam o nome de
neuroplítica, e segundo Antonio Lavedra, especialista em comportamento
eleitoral, razão e emoção caminham juntas numa eleição, estruturando
sentimentos, que são emoções conscientes.
Estudos
demonstram que apesar do eleitor reagir conscientemente às criticas, registram
sete vezes mais as informações negativas. Entre as descobertas está que os
eleitores rejeitam os ataques direcionados ao adversário opositor,
identificando-o com suas próprias críticas. Essas descobertas tem levado
candidatos a buscar fazer uma campanha mais propositiva.
Num
estudo de dez anos atrás, o psicólogo americano Drew Westen, da Universidade de
Emory,foi capaz de provar com 30 eleitores selecionados, 15 de cada candidato,
que ao exibir imagens de seus candidatos criticando um ao outro, os eleitores
eram capazes de identificar as contradições do candidato rival, porém, não
reconheciam quando seu candidato mentia ou manipulava os fatos. Exames de ressonância
magnética mostraram que seus cérebros entravam em uma espécie de “curto-circuito”.
De
toda a matéria podemos compreender que muito embora o estimulo à participação
política coletiva traga benefícios para a população, contribuindo para a saúde física,
mental e fortalecimento do caráter, além da inclusão social daqueles anteriormente
excluídos do processo democrático, permitindo-lhes a exposição e defesa de seus
interesses, o processo eleitoral ainda encontra-se muito passivo de manipulação
no Brasil.
Com
os políticos e partidos, através de seus marqueteiros, passando a utilizar-se
dos conhecimentos da psicologia, da neurociência e do comportamento das massas,
torna-se cada vez mais necessário o incremento educacional da população, de
forma a tornar-se mais consciente do processo de cidadania, podendo influir nos
rumos a serem tomados pelo país, sem assinar um cheque em branco a políticos
com poucos escrúpulos ou envolvidos com os mais diferentes interesses que não
sejam a causa pública.
Referências:
ü Revista Psique, Ano VIII, n.104, p. 24 a 31 –
autora Magdalena Barbera Sotano
Adaptação e grifos do autor. SLRM.