sábado, 9 de julho de 2011

COQUELUCHE: A DOENÇA ESTÁ VOLTANDO?


         O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América, divulgou recentemente nota sobre o aumento significativo de casos, naquele país, de Coqueluche (B. Pertussis), afetando principalmente crianças menores de três anos e que não hajam recebido a vacinação dTpa.
         A Coqueluche é uma doença infecciosa altamente contagiosa que atinge o trato respiratório causando intensa bronquite. Tem como agentes etiológicos bactérias chamadas Bordetella pertussis e Bordetella parapertussis. As queixas iniciais são de sintomas semelhantes aos do resfriado comum: febre moderada, coriza, espirros e tosse irritativa. A tosse evolui em aproximadamente duas semanas para um estado paroxístico, com espasmos de tosse que podem se repetir sem inalação em até vinte a trinta tossidas, seguida de ruído inspiratório (guincho). A face pode tornar-se pletórica (avermelhada) ou cianótica (azulada), podendo levar a criança a uma perda momentânea de consciência após uma crise de tosse. Pode ocorrer vômito e grande produção de muco.
         A infecção é disseminada pelo ar por meio de gotículas respiratórias (fomites) de uma pessoa infectada. O homem é o único hospedeiro da Bordetella pertussis ou da Bordetella parapertussis.
O período de incubação é de 6 a 21 dias. As complicações mais frequentes incluem: convulsões, pneumonias, encefalopatias e morte. A taxa de mortalidade é mais elevada até o segundo mês de vida diminuindo gradativamente até um ano de idade.
         Os estudos demonstram a efetividade da vacina dTpa na ocasião de um surto e sugerem que a mesma oferece efetiva proteção contra a doença, recomendando utilização da vacina em hospitais, postos de saúde, em puérperas (mulheres grávidas) e em contatos próximo a recém nascidos.
         O texto foi publicado no site médico Medical Service, em 14 de junho de 2011 e vale conferí-lo  abaixo:
Coqueluche: uma doença que vem aumentando sua incidência e uma vacina efetiva para o controle de surtos.
São Paulo, 14 de Junho de 2011
No último dia 9 de julho, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos publicou um relatório no qual estabelece que o número de casos de coqueluche (pertussis) reportados ao Departamento de Saúde Pública da Califórnia (CDPH) aumentou substancialmente em 2010. O aumento dos casos foi observado pela primeira vez no final de março entre os pacientes que deram entrada num hospital pediátrico. Entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2010, foram reportados um total de 1.337 casos, o que representa um aumento de 418% em relação aos 258 casos reportados durante o mesmo período em 2009. Todos os casos preencheram as definições de casos confirmados ou prováveis de coqueluche ou doença com tosse aguda e a detecção de ácido nucleico específico de Bordetella pertussis em amostras nasofaríngeas por PCR (reação de polimerase em cadeia) estabelecidas pelo Conselho de Epidemiologistas Estaduais e Territoriais.
Durante o período que vai de janeiro a junho na Califórnia, a incidência de coqueluche foi de 3,4 casos para cada 100.000 habitantes. As taxas por estados oscilaram de 0 a 76,9 casos por 100.000 habitantes (média: 2,0 casos). Por grupo etário, a incidência foi mais alta (38,5 casos por 100.000 habitantes) entre as crianças menores de 1 ano de idade; 89% dos casos correspondiam a lactentes menores de 6 meses de idade, que são muito pequenos para estar completamente imunizados. A incidência entre crianças e adolescentes de 7 a 9 e de 10 a 18 anos de idade foi de 10,1 casos e 9,3 casos por 100.000 habitantes, respectivamente.
Dos 634 casos reportados com dados disponíveis, 105 (16,6%) pacientes foram hospitalizados, dos quais 66 (62,9%) eram menores de 3 meses de idade. A incidência entre os lactentes hispânicos (49,8 casos por 100.000 habitantes) foi maior do que em outros grupos étnicos. Foram registrados cinco óbitos, todos correspondentes a lactentes hispânicos menores de 2 meses de idade previamente saudáveis e nenhum tinha recebido vacinas com componente pertussis.
A incidência de coqueluche é cíclica, com picos que se apresentam a cada 3 e 5 anos nos Estados Unidos. O último pico foi no ano 2005, quando foram reportados aproximadamente 25.000 casos a nível nacional e aproximadamente 3.000 casos na Califórnia, incluindo oito mortes em crianças menores de 3 meses. Se as taxas da primeira metade do ano persistem ao longo de 2010, a Califórnia teria a sua maior taxa anual de coqueluche notificada desde 1963, e o maior número de casos reportados desde 1958.
O CDPH está tratando de prevenir a transmissão da coqueluche aos lactentes vulneráveis mediante a difusão de material educativo e guias clínicos, a conscientização da sociedade e o oferecimento da vacinação gratuita contra difteria, tétano e coqueluche com a vacina tríplice bacteriana acelular (dTpa) em hospitais, maternidades e em departamentos locais de saúde para incentivar a vacinação das puérperas e os contatos próximos dos recém nascidos.
Em junho de 2010, Wei e colaboradores publicaram um trabalho no qual estudaram um surto de coqueluche ocorrido entre 30 de setembro e 19 de dezembro de 2007 na décima segunda série de uma escola em St. Croix, Ilhas Virgens - EUA. Neste trabalho, foram examinados todos os estudantes com tosse e foram coletados seus históricos clínicos e feito um registro daqueles que tinham recebido a vacina dTpa. Foi feita uma prova diagnóstica naqueles estudantes com tosse. Foi definido como caso clínico, estudantes com tosse de 14 ou mais dias de duração, paroxismos ou vômitos pós tosse, e definiu-se como caso confirmado, estudantes com qualquer tipo de tosse com o isolamento de Bordetella pertussis ou aqueles casos clínicos com PCR ou sorologia positiva para pertussis; outros casos clínicos foram definidos como prováveis.
Os resultados do estudo mostraram 51 casos confirmados ou prováveis entre os 499 alunos (taxa de ataque de 10%). A doença se agrupou nas séries com estudantes de 6 a 12 anos de idade, com um pico na taxa de ataque de 38% entre os estudantes de 10 anos de idade. De 266 estudantes com 11 anos ou mais, com dados completos, somente 31 (12%) tinham recebido a vacina dTpa. Quarenta e um estudantes não vacinados (18%) tinham coqueluche confirmada ou provável, em comparação com 2 (6%) dos estudantes vacinados (risco relativo de 2,9); a efetividade da vacina foi de 65,6% (intervalo de confiança de 95% - 35,8% ao 91,3%; P=0,092).
Esta avaliação da efetividade da vacina dTpa na ocasião de um surto sugere que esta vacina proporciona proteção contra a coqueluche. Também demonstra a importância de aumentar as coberturas de vacinação e destaca que as provas sorológicas são um instrumento importante para a identificação de casos e sua inclusão deve ser considerada para a definição de caso por parte do Conselho de Epidemiologistas Estaduais e Territoriais.
Uma resenha de Notes from the Field: Pertussis - Morbidity and Mortality Weekly Report – CDC; July 9, 2010 / 59(26);817

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