Trabalho publicado no site
www.minhavida.com.br , de autoria de Letícia Gonçalves, entrevistando o
médico Dr. Arthur Guerra, especialista em tratamento de dependentes
químicos, traz importantes revelações sobre os cuidados que os pais
devem ter na educação de seus filhos, objetivando prevenir e afastá-los
do caminho das drogas.
Na data
dedicada internacionalmente ao combate ao uso de drogas, 26 de junho,
muito importante se tornam as revelação feitas nessa entrevista, como um
alerta aos pais, para as formas de identificar e prevenir o possível
contato de seus filhos com as drogas.
Fonte:
Especialista Arthur Guerra
tira as maiores dúvidas sobre sintomas do vício e tratamento
Por Letícia Gonçalves - publicado
em 26/06/2012
No início, são alguns goles de
bebida alcoólica e um ou outro cigarro. Depois, desponta uma curiosidade por
maconha e até pode chegar ao uso de cocaína e crack. Esse costuma ser o trajeto
de adolescentes pelo mundo das drogas, que
tem começado cada vez mais cedo. Um levantamento realizado pelo Portal
Educacional mostrou que aos 15 anos de idade, 75% dos jovens já beberam pelo
menos uma vez na vida e 31% já beberam além da conta. Os resultados são da
pesquisa chamada "Este Jovem Brasileiro - Álcool", que contou com 11.846
jovens de 13 a 17 anos de todo o país. Além disso, 30% dos jovens começaram a
beber com regularidade a partir de 14 ou 15 anos.
Dr. Arthur Guerra é psiquiatra e
realiza vários trabalhos sobre álcool e drogas
O papel dos pais na tentativa de
evitar que o filho entre nesse caminho ou de ajudá-lo a sair pode fazer toda a
diferença. Por isso, no Dia Internacional Do Combate às Drogas (26 de junho),
entrevistamos o psiquiatra Arthur Guerra, especialista do Minha Vida e
Coordenador do GREA, Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e
Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP, para esclarecer dúvidas sobre a atitude da família com o
adolescente quando o assunto é drogas. Confira:
Por que o uso de drogas pode
ser mais comum na adolescência?
O adolescente está em uma fase
muito especial da vida: está deixando de ser criança para virar adulto, uma
fase de mudanças e novas experiências. A curiosidade é um dos maiores motivos
que o leva a experimentar alguma droga e, depois de um tempo, passar a
experimentar outras cada vez mais pesadas. De cada 10 adolescentes que
experimentam drogas, um acaba virando dependente.
Como os pais podem interferir
na vida do filho adolescente na tentativa de que ele fique longe das drogas?
Sem dúvida, a principal forma de
prevenção é os pais darem o exemplo sadio. Acho errado pais que deixam o filho
experimentar e consumir bebida alcoólica, cigarro ou outras drogas dentro de
casa, junto com eles. O certo é mostrar que o consumo dessas drogas é
prejudicial à saúde e não manter esse hábito.
"De cada 10 adolescentes que
experimentam drogas, um acaba virando dependente."
Nem mesmo o álcool pode ser
permitido entre os adolescentes?
Exatamente. O consumo de álcool
é sempre um hábito negativo, por três motivos principais: primeiro porque o
adolescente não consegue ter controle sobre o uso e acaba consumindo de forma
exagerada, vai pela empolgação e pelos amigos. Segundo, o cérebro do jovem onde
o álcool vai agir ainda não está totalmente amadurecido, o que pode prejudicar
o rendimento escolar dele. O terceiro, por fim, é o risco maior de dependência:
quanto mais cedo a pessoa começar a usar, maiores serão as chances de ter
problemas de saúde e de acostumar o corpo ao uso frequente de álcool.
Quais sinais podem levar os
pais a desconfiar que o filho seja usuário de drogas?
Quando o pai começa a desconfiar
de mudanças de comportamento. Essa mudança é percebida principalmente aos
observar os amigos do filho - ou ele muda as amizades, ou os amigos também
começam a ficar com comportamentos diferentes. O adolescente ainda pode ter uma
piora do rendimento escolar na escola, ficar irritável, trocar o dia pela noite
e conversar menos dentro de casa.
O que precisa ser feito quando
a família constata que existe uma situação de uso de drogas?
O primeiro passo é observar o
comportamento e procurar conversar com o filho. É muito importante entender
qual é o tipo de droga usado e a frequência, além de procurar ajuda
profissional.
Apoio da família é fundamental
para o tratamento da dependência.
Como identificar que o filho
está dependente?
Se ele fizer um uso eventual de
maconha e álcool, por exemplo, não terá o comportamento tão afetado no dia a
dia. Pode ser um consumo ligado a uma situação de festa e eventos esporádicos,
mas que mesmo assim é perigoso e precisa de atenção. Já quando o adolescente
está dependente, ele precisa usar a droga sempre para não ter abstinência. Se
os pais observarem o comportamento e a rotina do filho e mantiverem sempre um
diálogo, conseguirão perceber com facilidade essas diferenças.
O tratamento do adolescente é
diferente do tratamento adulto?
Sim. O tratamento em todas as
faixas etárias costuma ser multifacetado, ou seja, com várias áreas envolvidas
(psiquiatra, psicólogo e outros). O adolescente, porém, precisa ainda mais do
ambiente familiar e de um grande suporte dos amigos. É difícil você chegar a
esse jovem e simplesmente dizer "você nunca mais vai usar álcool na sua
vida". Ele precisa de apoio para entender o motivo dessa proibição, pois
está em uma fase cheia de mudanças e dúvidas. Muitas vezes, o jovem está na
busca até de respostas para o seu vício e encontra conforto em grupos de apoio.
Quando é necessário
internação, o jovem deve ir por livre e espontânea vontade ou pode ser forçado
a isso?
Em casos em que o jovem não
consegue separar as coisas, está em um grau de dependência que perdeu a
liberdade de escolher, pode ser até utilizada uma interação involuntária. Mas
ela é ruim porque afasta o familiar e o médico do paciente, o que pode aumentar
o risco de suicídio. Por isso, o melhor é contar com ajuda médica para tomar
qualquer atitude.
"Quanto mais cedo a pessoa
começar a usar drogas, maiores serão as chances de ter problemas de
saúde."
A internação é garantia de
sucesso da reabilitação?
Não. Ela é uma forma de
tratamento que o médico especializado pode indicar, mas não garante que o
paciente nunca mais tenha recaídas. As chances de sucesso são bem maiores
quando a internação é bem aceita pela pessoa que usa drogas. Por isso, a
família e o médico têm de apoiar e incentivar o paciente, mostrando a
importância do tratamento.
Qual deve ser a postura dos
pais e da família durante o tratamento?
A família deve sempre buscar
orientação e seguir todas as condutas que a equipe de saúde recomenda. Por
exemplo: se a equipe fala "não pode usar drogas", a família não pode
permitir uma única vez sequer que o filho use drogas. É difícil, porque muitos pais
ficam com dó de ver o filho sofrendo com a abstinência e permitem, achando que
usar apenas uma vez não terá problemas. Se a equipe também orienta que o
adolescente volte aos estudos, a família precisa incentivar isso. É uma medida
para que ele volte à vida normal e se distraia. Há pais que deixam o filho
ficar em casa, com medo de que ele se irrite demais ao forçá-lo a ir à
escola.
É fundamental, portanto, tanto
dar apoio e carinho quanto ser mais rígido em alguns momentos. Quando o
tratamento é mais difícil por conta do comportamento e da dependência do
adolescente, os pais podem atrapalhar se forem flexíveis demais com o
filho.
Saiba mais
Como as drogas ilícitas mais
comuns agem no organismo do adolescente?
Maconha causa taquicardia,
dilatação das veias oculares, euforia seguida por um momento de sonolência ou
depressão, boca seca, ansiedade, pânico, alucinações, diminuição da atenção,
dificuldade de coordenação motora, entre outros. Em longo prazo, pode causar
dependência - irritabilidade, insônia e ansiedade ao não fumar -, prejuízo da
memória (déficit de atenção), tristeza, câncer no trato respiratório, câncer de
cabeça e pescoço, bronquite, enfisema e tosse crônica.
Cocaína e crack causam euforia,
diminuição de apetite e sono, taquicardia, aumento da pressão arterial,
irritabilidade, paranoia, entre outros. Em longo prazo, a droga provoca
alterações de humor, psicose, ataques cardíacos, dores no peito, tontura,
convulsões, AVC, perda do olfato, náuseas, dor abdominal, alergias, perda de
peso e outros problemas.
Ecstasy causa agitação, náusea,
sudorese, batimento dos dentes, visão borrada, câibras, desidratação, infarto,
insuficiência renal. Após o uso da droga, há um prejuízo nas funções mentais,
principalmente na memória, que pode durar até uma semana. A intoxicação por
esse tipo pode causar aumento da pressão arterial, ataques de pânico, perda da
consciência e convulsões. Já o LSD causa taquicardia, aumento da pressão
arterial, tontura, perda de apetite, boca seca, náusea e tremores.
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