sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TRANSTORNOS DO HUMOR, BIPOLARIDADE E COLESTEROL BAIXO, ALGUMA RELAÇÃO?

RELAÇÕES ENTRE TRANSTORNO BIPOLAR E BAIXAS  TAXAS DE COLESTEROL.

                O transtorno bipolar tem sido cada vez mais diagnosticado principalmente após a nova versão do DSM IV e do CID -10 que aprimoraram a classificação dos distúrbios mentais.
               O transtorno bipolar, uma doença crônica, um distúrbio cerebral recidivante, geralmente se desenvolve no final da adolescência ou no início idade adulta, com a metade de todos os casos com início antes dos 25 anos. Pacientes com transtorno bipolar têm, frequentemente, extremos de mania e depressão que se alternam com períodos de humor normal. Durante episódios maníacos, mudanças de comportamento, como agitação, insônia, irritabilidade, assumir riscos, ou comportamento impensado irão ocorrer. Durante a fase depressiva, os pacientes muitas vezes se tornam letárgicos, perdem o interesse em atividades que anteriormente apreciavam, e estão em risco de comportamento suicida.
         Segundo a Dra. Sarah T. Melton, Doutora em Farmacologia, Diretora do Outreach Addiction, Professora Adjunta de Prática de Farmácia da  Appalachian College of Pharmacy, Oakwood, Virginia/EUA; Farmacêutica clínica do  C-Health, PC, Líbano, Virginia/EUA, os sintomas psiquiátricos têm sido associados com baixo colesterol e incluem ansiedade, depressão, euforia, irritabilidade, agressividade e ideação suicida. Essa ligação entre os distúrbios do colesterol e do humor vem sendo investigada.
         O colesterol é abundante no cérebro possui papel importante em muitos aspectos da estrutura e da função celular. O colesterol afeta a fluidez das membranas celulares, a permeabilidade da membrana, os processos de troca, e pode influenciar a função serotoninérgica. A redução das taxas de colesterol pode provocar prejuízo na função dos receptores cerebrais 5-HT1A e 5-HT7 e a atividade dos receptores de serotonina. Com uma redução ainda mais drástica ao correr do tempo do colesterol pode reduzir ainda mais a expressão dos receptores de serotonina, provocando uma baixa na atividade serotoninérgica.  Estudos tem estabelecido uma correlação entre índices baixos do ácido 5-hidroxiindolacético no líquido cefalorraquidiano e o colesterol, com tentativas de suicídio.
         Existem vários estudos ligando baixos índices de colesterol com comportamento suicida. Além de mais de trinta estudos que estabelecem essa correlação, outros estudos tem mostrado uma possível ligação entre baixos níveis de colesterol e aumento do número de suicídios, tentativas de suicídio e comportamento auto-agressivo. De modo geral esses estudos ainda dependem de replicação, especialmente na Ásia, uma vez que a evidência geral não suporta uma constatação rotineira dos níveis de colesterol na avaliação de risco de suicídio. Um fator que dificulta a constatação dos níveis baixos de colesterol como indicadores para potenciais suicidas é que no caso de pacientes deprimidos atribui-se a diminuição do colesterol sérico á restrição nutritiva dessas pessoas.
         Em estudos comparados com controles, pacientes com transtorno bipolar, mania e síndromes mistas, tiveram níveis de colesterol total sérico significativamente mais baixo. Pacientes com transtorno bipolar e transtorno depressivo maior tiveram níveis de colesterol no cérebro mais baixos do que de pacientes controles saudáveis. Em um estudo, os pacientes com transtorno bipolar em remissão tinham concentrações mais baixas de colesterol em comparação com os controles.  
         Outros estudos tem demonstrado um aumento da prevalência de hiperlipidemia, principalmente na  forma de hipertrigliceridemia. O tratamento da mania pareceu reduzir o colesterol em um estudo e aumentá-lo em outro.
         Em um estudo de coorte com 131 participantes buscou-se examinar a relação entre colesterol total em jejum e sintomas depressivos e maníacos subsequentes. Nos pacientes bipolares do estudo (65), o colesterol reduzido prediz uma maior proporção de semanas de seguimento com sintomas de mania, mas não com sintomas depressivos.
         Mantendo-se a análise de que a depleção do colesterol pode associar-se a transtornos do humor, cabe investigar se os medicamentos utilizados para baixar os níveis de colesterol não estariam associados com depressão maior e ideação suicida. Em uma revisão de literatura feita encontrou-se evidências de efeitos adverso de ordem psiquiátrica associados ao uso de estatinas, fibratos, e ezetimiba. Um outro estudo de meta-análise de grandes ensaios clínicos de agentes hipoglicemiantes não mostrou associação entre o uso desses agentes e taxas de suicídio.
         Estatinas de baixa lipofilicidade como a pravastatina, podem possuir efeitos adversos menores de ordem psiquiátrica e cognitiva, pela dificuldade que possuem em ultrapassar a barreira hemato-encefálica.
         Existe atualmente em andamento um estudo duplo cego, controlado com placebo, da Universidade de San Diego, Califórnia/EUA, que visa avaliar resultados relativos á cognição, comportamento e qualidade de vida em doentes medicados com pravastatina 40mg, sinvastatina 20mg ou placebo. Espera-se que esse estudo possa esclarecer os efeitos das estatinas não cardíacas, particularmente os efeitos do colesterol baixo ou reduzido na função cognitiva, na agressividade e na bioquímica da serotonina.
         Ainda segundo a Dra. Melton, complicando ainda mais a análise do papel do colesterol na doença bipolar, estudos epidemiológicos mostram que a taxa de síndrome metabólica em pacientes com transtorno bipolar é aumentada em relação á população em geral. Essa é uma visão internacional e relaciona-se com doenças mais complexas, respostas menos favoráveis ao tratamento e resultados menos efetivos.
         Um estudo descobriu que pacientes bipolares apresentavam mais critérios para a síndrome metabólica possuíam maior probabilidade de relatar uma história de suicídio. A síndrome metabólica e a doença bipolar em associação é mediada tanto por fatores iatrogênicos como não iatrogênicos.
         Pacientes portadores de transtorno bipolar devem ser rastreados para os fatores de risco de síndrome metabólica antes do tratamento. Antipsicóticos de segunda geração que são comumente usados no tratamento do transtorno bipolar podem ser considerados causadores ou agravadores a síndrome metabólica.
         Pacientes com transtorno bipolar requerem do profissional de saúde  alguma ações antes da prescrição de antipsicóticos de segunda geração:
·         Obtenção de índice de massa  corporal, história pessoal e familiar e circunferência da cintura;
·         Obtenção de glicemia de jejum, perfil lipídico em jejum e pressão arterial iniciais.
·         Reavaliação de mudanças de peso em 4, 8 e 12 semanas após o início ou mudança na terapia antipsicótica, e trimestralmente após essa data.
·         Reavaliar a glicemia de jejum, lipídios e pressão arterial em três meses e depois anualmente ou com mais frequencia nos pacientes com maior risco de base para diabetes e hipertensão.

Existem referencias na literatura entre os níveis de colesterol e sintomas afetivos em pacientes  com transtorno do humor, incluindo o transtorno bipolar. Ainda não há, entretanto, uma correlação consistente entre os níveis de colesterol, alterações humor e função dos neurotransmissores, devido a complexidade desses mecanismos.
     Embora os níveis do colesterol estejam associados com risco aumentado para suicídio e sintomatologia maníaca futura, pacientes bipolares estão também em risco para anormalidades metabólicas, incluindo obesidade, diabetes e hiperlipidemia, capazes de afetar a apresentação clínica, o curso da doença e a resposta ao tratamento. Esses pacientes devem ser monitorados durante o tratamento já que muitas medicações utilizadas para o transtorno bipolar podem agravar as anormalidades metabólicas. São necessários mais estudos que sejam capazes de esclarecer a correlação entre os níveis de colesterol, alterações do humor, risco de suicídio e a bioquímica da serotonina.
     A avaliação médica criteriosa, especializada, não pode ser dispensada tanto para pacientes com síndrome metabólica, distúrbios do humor e bipolaridade, ficando sempre á critério médico a definição da melhor forma terapêutica medicamentosa de acordo com cada caso.
     Se novos avanços surgirem em breve nessa área que confirmem as possíveis correlações entre as taxas reduzidas de colesterol, distúrbios do humor, bipolaridade e interações medicamentosas, estaremos possivelmente próximos a um melhor controle desses transtornos que afetam grande parte da humanidade.
Autora: Sarah T. Melton, PharmD.
·         Director of Addiction Outreach; Associate Professor of Pharmacy Practice, Appalachian College of Pharmacy, Oakwood, Virginia; Clinical Pharmacist, C-Health, PC, Lebanon, Virginia

Bibliografia citada:
• American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4th ed, text revision (DSM-IV-TR). Washington, DC: American Psychiatric Association; 2000.
 • Fiedorowicz JG, Haynes WG. Cholesterol, mood, and vascular health: untangling the relationship. Curr Psychiatry. 2010;9:17-22.
 • Shrivastava S, Pucadyil TJ, Paila YD, Ganguly S, Chattopadhyay A. Chronic cholesterol depletion using statin impairs the function and dynamics of human serotonin(1A) receptors. Biochemistry. 2010;49:5426-5435. Abstract • Asellus P, Nordström P, Jokinen J. Cholesterol and CSF 5-HIAA in attempted suicide. J Affect Disord. 2010;125:388-392. Abstract
• Lester D. Serum cholesterol levels and suicide: a meta-analysis. Suicide Life Threat Behav. 2002;32:333-346. Abstract
 • Gabriel A. Changes in plasma cholesterol in mood disorder patients: does treatment make a difference? J Affect Disord. 2007;99:273-278.
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