sábado, 4 de junho de 2011

RELAÇÃO ENTRE ESCOVAÇÃO DENTAL, DOENÇA PERIODONTAL E CORONARIOPATIAS.

 A doença periodontal sempre foimotivo de preocupação entre cirurgiões dentistas não só pelas sua implicações bucais, mas por caracterizar-se por um processo inflamatório crônico que por visa sistema pode afetar todo o organismo. Mais recentemente estudos realizados em todo mundo tem revelado as implicações e relação entre a doença periodontal crônica e as possibilidades de complicações cardiovasculares. Nesse sentido a escovação bucal parece exercer fator determinante, especialmente naquelas pessoas na faixa etária mais propensa ao aparecimento de doenças cardiovasculares. Com o aumento da qualidade de vida e por consequência da sobrevida que atinge hoje médias mais altas, no Brasil próximo aos 75 anos, a escovação bucal e a redução dos marcadores de inflamação, tornam-se aliados no combate a morte precoce por complicações coronarianas e o cirurgião dentista desempenha relevante papel no controle dessas alterações.
Abaixo reproduzo texto publicado pela Intra-Med News nº 617, de 16/setembro/2010, de autoria do Dr. Ricardo Ferrreira, por mim traduzido:

30 ago 10 | RISCOS DO BAIXO ÍNDICE DE HIGIENE ORAL.
ESCOVAÇÃO DENTAL, INFLAMAÇÃO E RISCO DE ENFERMIDADE CARDIOVASCULAR.
A MÁ HIGIENE ORAL ESTÁ ASSOCIADA A MAIOR RISCO CARDIOVACULAR E INFLAMAÇÃO LEVE.

Introdução
A inflamação desempenha um papel importante na patogênese da aterosclerose e  os marcadores de inflamação leve  têm sido associados invariavelmente com aumento do risco de doença cardiovascular.
Uma das infecções crônicas mais comum  é a doença periodontal, que é a infecção crônica dos tecidos ao redor dos dentes causada por má higiene oral. Está associada a uma resposta inflamatória sistêmica moderada, o que implica o aumento das concentrações de PCR (Proteía C Reativa)  e outros biomarcadores inflamatórios. A inflamação sistêmica pode ser o mecanismo subjacente que liga a saúde bucal com doença cardiovascular.
 Aproteína C-reativa e fibrinogênio são marcadores sensíveis que são utilizados para avaliar o estado inflamatório. Os resultados dos estudos longitudinais prospectivos indicam que estes marcadores podem ser úteis como preditores de eventos cardiovasculares futuros.
Estudos epidemiológicos anteriores em menor grau determinaram  a doença periodontal  por avaliações clínicas. Estas avaliações podem não ser possíveis em grandes estudos populacionais. As medidas de higiene oral relatada pelos pacientes  associado com a doença periodontal foi confirmado clinicamente. Este estudo investigou se a frequência de  escovação relatada pelos pacientes associou-se com o risco de eventos cardiovasculares em uma amostra de adultos do Departamento de Saúde Escocesa de Survey. Os autores também analisaram a associação entre a frequência de escovação e marcadores inflamatórios (proteína C reativa e fibrinogênio) em um subgrupo de participantes.
Métodos
A Scottish Health Survey é um estudo transversal (realizada a cada 3-5 anos) que leva uma amostra representativa da população geral da Escócia. Para este estudo combinou dados de 1995, 1998 e 2003, obtidos por adultos com 35 anos ou mais.
Os entrevistadores visitaram domicílios, e coletaram adequadas dados demográficos e comportamentais relacionados à saúde (tabagismo, atividade física e comportamentos relacionados à saúde bucal) e mensurou o peso e a altura.
O comportamento em relação a saúde bucal é determinado a partir dos dados relatados pelo paciente sobre a frequência de visitas ao dentista (pelo menos a cada seis meses, a cada 1-2 anos ou nunca) e da escovação (duas vezes por dia, uma vez por dia, menos de uma vez por dia). Em outra visita, enfermeiros  coletaram informações sobre a história pessoal e familiar de doença cardiovascular, pressão arterial e amostras de sangue.
Osa resusltados revelados  foram ligados prospectivamente com um banco de dados de internações  hospitalares e mortes em pacientes acompanhados até dezembro de 2007.
O critério principal de valorização foi  composto de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. Este último inclui as internações hospitalares relacionadas às doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, revascularização do miocárdio, angioplastia coronariana percutânea, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca.
Em um subgrupo de 4.830 participantes foram obtidos a partir de amostras de sangue periférico para determinação da proteína C-reativa e fibrinogênio.
Resultados
A amostra do estudo foi de 11.869 pessoas (46,1% homens, com idade média de 50,0) sem doença cardiovascular prévia.
Comportamento em relação à saúde bucal foi geralmente bem: cerca de 62% dos participantes visitaram o dentista regularmente (pelo menos a cada seis meses) e 71% tinham uma boa higiene oral (escovação duas vezes ao dia). Os participantes que escovavam os dentes menos de duas vezes por dia foram um pouco mais velhos, mais frequentemente homens e de menor status social e alta prevalência de fatores de risco como tabagismo, inatividade física, obesidade, hipertensão e diabetes.
Foram 555 episódios de doença cardiovascular, em média, 8,1 anos de acompanhamento, 170 dos quais foram fatais. Em cerca de 74% dos diagnósticos primários de patologia cardiovascular inidiu a doença arterial coronariana. A idade média dos sobreviventes sem eventos cardiovasculares foi de 49,6 anos e para aqueles que sofreram um evento cardiovascular foi de 57,0 anos, no início das avaliações. Na análise ajustada por idade e sexo, os participantes que relataram higiene dental pobre tiveram um maior risco de eventos cardiovasculares e morte por doença cardiovascular.
Os participantes que relataram menores índices de escovação tinham 70% maior risco de eventos cardiovasculares, em modelos ajustados,  em relação aos participantes que escovavam os dentes duas vezes por dia. Os outros preditores independentes de eventos cardiovasculares foram tabagismo (razão de risco 2,4, intervalo de confiança 1,9-2,9, 95%), hipertensão (1,7, 1,4-2,0 ) e diabetes (1,9, 1,4 a 2,7).
Não houve diferença aparente por sexo e idade nos resultados. Não houve diferença entre os fumantes e aqueles que nunca fumaram. Houve associações significativas entre a freqüência de escovação e leve marcadores inflamatórios sistêmicos. Os participantes que tinham escovado com menos freqüência apresentarm aumento das concentrações de PCR e fibrinogênio β.
Discussões
Escovação dentária está associada com doença cardiovascular, mesmo após ajuste para idade, sexo, grupo econômico, tabagismo, consultas odontológicas, índice de massa corporal, histórico familiar de doença cardiovascular, hipertensão arterial e diagnóstico diabetes.
Os resultados deste estudo confirmam os de estudos anteriores e  também sugerem que a qualidade da escovação dos dentes está associada a valores elevados de proteína C-reativa e fibrinogênio.
A participação da saúde bucal na doença cardiovascular, tem recebido considerável atenção. A doença periodontal é uma doença inflamatória crônica e complexa, o que provoca perda de tecido e osso que suporta os dentes. É uma das principais causas de perda dentária em adultos acima de 40 anos, segundo a OMS, a prevalência mundial é de 10-20% para formas mais graves.
A doença periodontal é muito comum, especialmente após a idade média de vida, quando também é mais comum  a doença cardíaca coronária e geralmente é causada por má higiene oral.
Os resultados deste estudo confirmam dados de estudos observacionais epidemiológicos,  também mostraram que uma pobre saúde periodontal está associada com risco aumentado de doença cardiovascular. Uma meta-análise chegou à mesma conclusão.
Este aumento de risco cardiovascular em pessoas com doença periodontal pode ter um profundo impacto na saúde pública.
A literatura médica mostra claramente que tanto na doença cardiovascular e doença periodontal ocorre um aumento  de citocinas pró-inflamatórias. Este estudo sugere o possível envolvimento de má higiene oral sobre o risco de doenças cardiovasculares através da inflamação sistémica. O aumento da resposta inflamatória ,  da hemostasia e da alteração do metabolismo lipídico, causados pela infecção periodontal pode ser as vias possíveis para essa associação entre doença periodontal e risco aumentado de doença cardiovascular.
Conclusões
A má higiene oral está associada com um risco aumentado de doença cardiovascular e  inflamação leve, mas ainda necessita-se determinar a natureza causal da associação.
Dada a alta prevalência de infecções bucais na população, os médicos devem estar atentos à origem oral possível aumento da carga inflamatória.
Revisão e resumo objetivo: Dr. Ricardo Ferreira
Fonte: intramed news -617 – 16/set/2010
Readaptado por: Dr. Sebastião Luiz R. Moreira.




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