quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DO VIVER E DO MORRER.


            O dia de hoje é consagrado à celebração da homenagem aos nossos mortos.
            Como em muitas tradições culturais pelo mundo também reverenciamos nossos antepassados, aqueles entes queridos que conosco conviveram durante um período, participando do fantástico trem da vida terrena, mas que desembarcaram em outras estações, para poderem experienciar novos caminhos, outras jornadas.
            Continuamos embarcados na nave vida, conhecendo, compartilhando e relacionando com outros passageiros, alguns recém embarcados, que conosco transitarão por uma jornada, até que um de nós, ou alguns, desembarque em nova estação.
            Como em toda despedida sentimos o coração apertado, a voz embargada, os olhos marejados de lágrimas, mas mesmo assim, sorrimos, meio sem jeito, para desejar boa viagem à aquele que parte. Ao outro, que desembarca numa estação que não é a nossa despedimo-nos com um até logo, nos vemos em breve.
            Quando realmente queremos o melhor para nossos pares, não os retemos. Sabemos que cada um de nós veio com um roteiro para essa jornada de exploração da vida terrena e devemos também saber que não podemos incluir ninguém em nosso roteiro, assim como não devemos tentar alterar a jornada do outro.
            Partilhamos juntos enquanto caminhamos pela mesma estrada, dividimos alegrias e tristezas, incertezas e superações, tornamo-nos, muitas vezes, como se fossemos um. Entretanto, ao atingirmos a encruzilhada da vida, ou a estação onde cada qual segue seu caminho para novas aventuras, separamo-nos, não sem certa tristeza, mas com a convicção e o sincero desejo que o nosso (a) parceiro (a) faça uma boa viagem.
            Precisamos crer, porque tudo o indica, somos seres imortais, transitoriamente num revestimento carnal, por breve espaço de tempo, porque a vida, mesmo,  é a do espírito e esse é imortal.
            Na terapia de vidas passadas (TVP) convivemos com esse fato ordinariamente, mesmo contra àqueles que teimam em negar, talvez mais por medo de ver ruir suas convicções, e a circunstância de cremos ou não, não invalida o fenômeno. O fato de não podermos perceber um Múon (uma das menores partículas sub-atômicas) não anula  sua existência.
            O que há de mais moderno na ciência atualmente constata: “Toda interação subatômica consiste na aniquilação das partículas originais e na criação de novas partículas subatômicas. O mundo subatômico é uma dança sem fim de criação e aniquilação, de matéria transformando-se em energia, e de energia transformando-se em massa. Formas transitórias faíscam dentro e fora da existência, engendrando uma realidade sem fim, para sempre novamente recriada.”
            A alma experiencia na matéria e através da vivência na matéria ela atinge os mais altos desígnios de sua existência no plano evolutivo espiritual.
            Não tenho a pretensão de convencer ninguém sobre a vida após a morte, isso cabe a cada um em seu processo existencial encontrar, apenas, não há como negar que a vida tal como a entendemos é apenas uma experiência entre o vir de um local “desconhecido”, exercitar-se na matéria e retornar ao mesmo lugar “desconhecido”. A esse entrar e sair na matéria é que os budistas tibetanos chamam de Sansara, o ciclo de nascimento e morte.
            Buda teria dito: “Esta nossa existência é transitória como as nuvens do outono. Ver o nascimento e a morte dos seres é como olhar os movimentos de uma dança. Uma vida é como o clarão de um relâmpago no céu, rápida como uma torrente que se precipita montanha abaixo”
         “O que nasceu há de morrer,
 O que foi reunido dispersará,
O que foi acumulado há de se esgotar,
O que foi construído há de ruir,
E o que foi elevado há de baixar”
Da experiência de pessoas que conviveram com o estado de quase morte (EQM), ou que passaram por graves enfermidades, e em momentos antes de deixar o corpo, comentaram:  
De um homem que estava perdido e vagava sem rumo, sem outra meta na vida que o desejo pela riqueza material, fui transformado em alguém com uma profunda motivação e propósito na vida, com uma direção definida e com a convicção reforçada de que há um prêmio quando ela chega ao seu final. Meu interesse pela riqueza material e minha avidez por bens foram substituídos por uma sede de compreensão espiritual e um desejo apaixonado de ver as condições do mundo melhorarem.”
            Uma mulher disse a Margot Grey, pesquisadora inglesa que trabalha com EQM:
As coisas que devagarzinho fui sentindo eram um sentimento de amor muito elevado, a capacidade para comunicar esse amor e encontrar alegria e prazer nas menores e mais insignificantes coisas em mim... Desenvolvi uma grande compaixão pelas pessoas doentes e que estão na iminência da morte, e queria muito avisá-las, conscientizá-las de algum modo que o processo de morte  nada mais é do que uma extensão da vida de cada um.”
            No diário de Freda Naylor, médica, que escreveu nos momentos terminais de sua vida consumida pelo câncer:
Tenho tido experiências que nunca havia tido, o que devo agradecer ao câncer: humildade, conciliação com minha própria mortalidade, conhecimento de minha força interior – que continuamente me surpreende – e mais coisas a meu respeito que descobri porque tive que interromper meus passos, reavaliar tudo e prosseguir.”
            O que, portanto, nos dificulta o entendimento e aceitação da continuidade da vida pós a extinção do corpo físico, é o apego á matéria, à realidade mental que construímos, capaz de gerar emoções negativas no sistema psicofísico, composto pelos canais sutis - ar interior e energia – e se concentram em determinados centros de energia do corpo, de acordo com os Tantras Dzogchen. Assim eles definem esse bloqueio que nos afasta da compreensão de uma realidade amplificada e nos fixa no plano da matéria e dos ideais terrenos: 1) As sementes dos reinos dos infernos e a causa deles – o ÓDIO – ficam nas solas dos pés. 2) O reino dos fantasmas famintos e sua causa – a AVAREZA – ficam na base do tronco. 3) O reino animal e sua causa – a IGNORÂNCIA – ficam no umbigo. 4) O reino humano e sua causa – a DÚVIDA – ficam no coração. 5) O reino dos semideuses e sua causa  - o CIÚME e a INVEJA – estão na garganta. 6) o reino dos deuses e sua causa – o ORGULHO – estão no topo da cabeça.
            Esses seis reinos que são canais de energia do corpo físico carregam emoções negativas que impedem o processo e evolutivo espiritual, necessitam, segundo as tradições tibetanas, que sejam purificados para que aquele ser, mesmo já no plano espiritual, possa ver-se livre de seu carma e dissolver-se em luz radiante (Divina).
            Isso significa, segundo essas tradições, uma prática que podemos realizar para auxiliar aqueles que nos são caros e já não pertencem a esse plano, no lugar das lamentações, do pranto revoltado, da saudade eivada de egoísmo, que conturbam a vivência do espírito desencarnado.
            Ainda segundo os monges budistas, a consciência da pessoa que morreu, quando invocada pelo poder da oração, pode ler nossas mentes e sentir exatamente tudo o que estamos pensando ou meditando. Por isso não há obstáculos para que ela compreenda as práticas feitas em sua intenção, em qualquer tipo de crença. Para ela a linguagem não é barreira de espécie alguma, uma vez que o significado essencial do texto religioso pode ser entendido plena e diretamente por sua “mente” no plano espiritual.
            Lembrar os nossos mortos é  sobretudo conversar com eles, assim como faríamos aqui, elevar até eles nossos melhores sentimentos, nosso afeto, nosso amor, nosso abraço e em especial nossas preces, de qualquer crença, pois ela são como bálsamos em feridas, serenam e acalmam as almas sofredoras, amainam os ódios e os rancores transportados, mas especialmente proporcionam a intercessão benfeitora da espiritualidade elevada e da compaixão Divina.
            Que cada um dos nossos queridos e todos que partiram desse plano, encontrem o caminho da evolução espiritual, da integração plena na luminosidade  divina, na benevolência, na compaixão, na misericórdia do inominável todo poderoso.

AUTOBIOGRAFIA EM CINCO CAPÍTULOS
(Nyoshul Khenpo)
1)      Ando pela rua
Há um buraco fundo na calçada
Eu caio
Estou perdido... sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
2)      Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada
Mas finjo não vê-lo
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.
3)      Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Vejo que ele ali está
Ainda assim caio... é um hábito.
Meus olhos se abrem
Sei onde estou
É minha culpa.
Saio imediatamente.
4)       Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Dou a volta.
5)       Ando por outra rua.

Que possamos todos atingir o esclarecimento que nos abre os olhos do espírito, evitando assim sucessivas e erráticas encarnações.  
Que a fulgurante luz do Eu sou, que tudo transmuta, preencha nossos corpos,mentes e espíritos, purificando-nos e removendo todas as impurezas emocionais do carma, de nossa vidas, de nossos antepassados e dos que nos são caros no mundo espiritual, libertando-nos assim da roda do Samsara.
(*)  OM AH HUM VAJRA GURU PADMA SIDDHI HUM
(*)  OM AH HUM VAJRA GURU PADMA SIDDHI HUM
Om, Ah, Hum -  purificam todas as obscuridades provenientes dos Três Venenos.
Vajra - purifica todas as obscuridades provenientes do ódio.
Guru  - purifica todas das obscuridades proveniente do orgulho.
Padma - purifica todas as obscuridades provenientes da inveja.
Hum - purifica todas as obscuridades provenientes de todas as máculas.
02/NOVEMBR0/2011 = 19:30h
SLRM
Bibliografia:
1)       O livro Tibetano do Viver e do Morrer – Sogyal Rinpoche – Editora Talento / Palas Athena – 2ª Edição – Maio de 1999 – IBSN – 85-7242-026-6

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